• 22/11/2024

    Raio X complementa o diagnóstico na hora da consulta

    Filmes ultrarrápidos e sensores digitais com baixas doses de radiação são recomendados para realizar o exame.

    Muito se especula sobre a periodicidade com que os pacientes devem realizar radiografias dentárias, afinal, a técnica expõe pessoas à radiação, mesmo que em pequenas doses. Entretanto, profissionais indicam que a frequência adequada varia de acordo com cada caso, e enfatizam que se trata de um exame que não deve ser feito indiscriminadamente.

    A radiografia odontológica ajuda no diagnóstico do paciente pelo dentista, que obtém informações suplementares com essa prática, como o estado dos dentes, das gengivas, do maxilar e da estrutura óssea da boca. A técnica auxilia no desenvolvimento de um plano de tratamento específico para cada pessoa. Segundo a professora titular da disciplina de radiologia da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP), Marlene Fenyo Soeiro de Matos Pereira (CROSP 16108), não há um perfil pré-estabelecido que revele quem precisa fazer raio X com frequência. “Fazemos a radiografia como primeiro exame porque precisamos entender a saúde oral do indivíduo, ou seja, identificar onde há possíveis lesões cariosas e focos de infecção.” Outro uso bastante comum da técnica é relacionado com a implantação de próteses, já que o exame mostra se há espaço para o procedimento ser feito.

    As indicações profissionais variam, mas Marlene afirma que pelo menos um raio X anual deve ser realizado. “Para que o paciente não se exponha muito, nós fazemos uma primeira radiografia periapical, com 14 imagens da boca toda.” Segundo a professora, também é recomendado que as pessoas realizem anualmente um exame radiográfico panorâmico e quatro interproximais, que mostram a coroa dos dentes inferiores e superiores com mais detalhes.

    Para o professor da disciplina de radiologia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Francisco Haiter Neto (CROSP 35251), qualquer radiografia traz um risco à saúde, mesmo que com apenas uma imagem. Teoricamente, existe a probabilidade da técnica causar algum dano, mas, na prática, isso depende de vários fatores, como a dose de radiação e a frequência com que é realizada. “É consenso que radiação causa problemas genéticos, mas não há previsão de quando isso pode ocorrer. Por isso, aconselha-se que ela seja feita uma vez por ano”, declara Neto.

    Antes de solicitar uma radiografia, o dentista precisa considerar os hábitos de higiene oral do paciente, a alimentação, a não visualização direta das faces proximais dos dentes e a suscetibilidade a lesões cariosas. Crianças têm muito mais cáries que adultos e são mais vulneráveis à radiação, por isso o cuidado deve ser redobrado. “O primeiro exame radiográfico geralmente acontece em torno dos seis anos, fase em que os pequenos estão trocando a dentição. É nesse momento que conseguimos ver o que está errado e faltando”, explica Marlene. De acordo com a professora, somente se há algum problema grave é que serão solicitadas mais imagens radiográficas.

    Gestantes, no primeiro trimestre da gravidez, são orientadas a evitar radiografias. “Após esse período, com colete de chumbo e protetor da tireoide, ainda fazemos o exame com muito cuidado”, avalia Marlene. Os profissionais precisam priorizar a saúde do paciente sempre, por isso a troca da tecnologia deve ser constante. Usar filmes radiográficos ultrarrápidos, que deixam as pessoas expostas à radiação durante 0,3 ou 0,2 segundos, e sensores digitais, com baixas concentrações de químicos e um tempo de exposição de 0,08 segundos, não é mais um diferencial, e sim uma necessidade dentro dos consultórios odontológicos.


    Pesquisa

    A diretora do departamento de radiologia oral e maxilofacial da Escola de Medicina Dentária da Universidade Tufts, nos Estados Unidos, Aruna Ramesh, afirmou que pessoas acostumadas a irem ao dentista regularmente, com boa higiene bucal e nenhum problema dental, precisam de um raio X dos molares somente a cada dois ou três anos. O objetivo da prática é prevenir lesões cariosas incipientes. Radiografias mais detalhadas, para observar o estado do osso adjacente e das raízes dos dentes, são necessárias de três a cinco anos.
    Embora empresas fabricantes de aparelhos radiográficos trabalhem constantemente para a redução da dosagem, em 2012 um estudo apontou a relação entre o exame e câncer, indicando uma pequena associação com tumor cerebral. O reitor da Escola de Medicina Dentária da Universidade da Pensilvânia, Denis Kinane, declarou que essa conexão poderia ser explicada por uma série de fatores além da técnica. Ele disse que, se houvesse um problema, dentistas e seus assistentes seriam os primeiros a sentir os efeitos.