• 22/11/2024

    Microcefalia: uma preocupação também para a odontologia

    Prevenção é essencial à boa saúde bucal, principalmente para pacientes com necessidades especiais.

    Desde 2015, com a proliferação do vírus Zika, muitas crianças têm nascido com microcefalia, doença que afeta o desenvolvimento do perímetro encefálico, trazendo como sequelas distúrbios na cognição e na coordenação motora. O último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde aponta que até julho de 2016 foram confirmados 1271 casos de microcefalia e alterações do sistema nervoso em todo o Brasil. Outros 3.580 estão em fase de investigação.

    Diante desse quadro, os dentistas têm papel fundamental no tratamento das pessoas afetadas pela doença. As alterações causadas no desenvolvimento neuropsicomotor afetam o tônus muscular, o que leva à hipertonia (um aumento da rigidez dos músculos)  ou hipotonia (a diminuição da rigidez). As duas condições impactam na mastigação, o que faz com que tenham uma alimentação mais pastosa, de texturas que ficam retidas mais facilmente na superfície dos dentes. Segundo Maria Lucia Zarvos Varellis (CROSP 26107), cirurgiã-dentista especialista em pacientes com necessidades especiais, essa dieta diferenciada, somada às dificuldades para realizar os movimentos de mastigação e oclusão e às limitações para realizar a higiene, pode causar diversos problemas na saúde bucal desses pacientes.

    De acordo com a especialista, é importante que as pessoas com microcefalia sejam tratadas desde cedo. “É muito melhor prevenir, mantendo a boca livre de doenças, do que realizar tratamentos curativos mais invasivos, como as restaurações, que podem demandar o uso de anestesia geral ou sedação”, afirma.

    Para o bom desenvolvimento do tratamento, a família tem um papel fundamental. “Quem tem uma criança especial visita vários especialistas, mas, em muitos casos, esquece que a boca faz parte desse sistema”, ressalta. Em suas palavras, um foco infeccioso na boca pode afetar outras partes do corpo, e o acompanhamento de um dentista pode evitar que problemas bucais se tornem complicadores na saúde geral.

    Os profissionais que tratam esses pacientes devem ter uma postura diferenciada. “A abordagem do dentista deve, antes de tudo, ser humanizada, realizada de acordo  com as alterações que o individuo apresentar”, destaca. Segundo Varellis, é preciso que o profissional tenha envolvimento com a família e com o paciente para compreender sua história e também sua a trajetória médica. Durante as consultas, que não devem ser longas, é necessário estabilizar o paciente na cadeira odontológica, pois muitas vezes pessoas com alterações neurológicas podem realizar movimentos involuntários, causando acidentes, e evitar sons estridentes e movimentos bruscos para não desencadear nenhum tipo de reação indesejada.

    Para os pais, as indicações são preconizar a higiene bucal com escova macia e creme dental com flúor e em pouca quantidade, para não fazer muita espuma e causar desconfortos que podem levar ao interrompimento da escovação. Segundo a especialista, prevenção é a palavra de ordem.