Genética também contribui para doenças bucais
Lábio leporino é uma das complicações orais com caráter genético.
Quando se fala em doenças ligadas aos genes, geralmente pensamos em enfermidades raras, relacionadas a algum tipo de síndrome. Mas a influência genética também pode estar presente em doenças bucais com grande incidência na população. Complicações como cáries e doenças periodontais, embora estejam primariamente ligadas aos maus hábitos de higiene oral, também podem ocorrer por conta da genética.
Embora o Brasil seja um dos países com um dos mais baixos números de incidência de cárie, a complicação é uma das mais comuns entre as doenças bucais. De acordo com a coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Odontologia (PPGO) da PUCPR, Renata Iani Werneck (CROPR-16955), parte das doenças orais recorrentes são classificadas como complexas, pois envolvem fatores ambientais e, muitas vezes, condicionantes genéticos.
“Essas complicações mais comuns, de alta prevalência na população, todas elas têm influência genética. E nós estamos começando a descobrir isso agora. No caso da cárie, também existe a interferência de genes que estão relacionados ao desenvolvimento das cáries e à mineralização do esmalte dentário”, afirma a especialista.
Entre as doenças essencialmente genéticas que possuem alta incidência populacional estão problemas no desenvolvimento do osso maxilar, lábio leporino e complicações relacionadas aos genes responsáveis pela formação do esmalte dentário, como a amelogênese imperfeita.
No caso dos lábios leporinos, a incidência é maior nos bebês recém-nascidos de mulheres acima dos 40 anos, mas o tratamento pode ser feito ainda na primeira infância, através de cirurgia. Já nos quadros de atrofia do osso maxilar, chamados de hipoplasia maxilar, a complicação está relacionada com outros tipos mais graves de síndromes, tornando mais difícil o tratamento estético.
“A hipoplasia ocorre devido a perda do cromossomo X. Uma vez que você não tem esse cromossomo, nós poderíamos até fazer um tratamento estético. Mas, normalmente, esta complicação está relacionada a pacientes sindrômicos, tornando o tratamento mais difícil’, afirma a especialista. No caso da amelogênese imperfeita, os tratamentos passa por múltiplas extrações dentárias, restaurações estéticas e próteses removíveis ou fixas.
De acordo com a profissional, grande parte dos odontologistas concorda que as variações ambientais ainda são os fatores mais importantes no surgimento das doenças orais. Mas isso não significa que os fatores genéticos não tenham importância. “É claro que o cigarro, por exemplo, está ligado com a doença periodontal. Porém, se eu cortar ele, isso não garante que eu não vou desenvolver a mesma doença, mas por causa de fatores genéticos”, afirma.