Escola é o melhor lugar para ensinar higiene bucal a crianças
Explicar o que é cárie ou placa bacteriana é um desafio para professores e exige acompanhamento de profissionais da saúde.
E se histórias em quadrinhos, peças teatrais e gincanas conseguissem acabar com o choro dos pequenos na hora de escovar os dentes? Após cada refeição, a briga se repete. Os pais tentam mostrar aos filhos a importância de escovar os dentes regularmente e ter cuidados com a saúde bucal, mas a tarefa não é fácil. Com base nisso, a aluna de mestrado em ciências odontológicas da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FOUSP) Luciana Pion Antonio desenvolveu um estudo para testar quais os métodos mais eficientes para a educação bucal infantil.
A escola se mostrou o melhor lugar para introduzir hábitos de higiene bucal na vida das crianças, pois, conforme Luciana, logo nas séries iniciais os pequenos tentam ser mais independentes em relação aos pais. Para ela, o ato de escovar os dentes pode ser um dos primeiros passos, já que na escola o aluno estaria mais disposto a aprender e ficaria orgulhoso em voltar para casa e mostrar que aprendeu a escovar os dentes sozinho.
Mesmo que o ambiente seja propício, o desafio da pesquisa era descobrir quais formas se mostrariam mais eficientes para que as crianças aprendessem sobre os cuidados com a saúde bucal. Para isso, a mestranda selecionou alunos que tinham entre sete e 10 anos e estavam em séries iniciais do ensino fundamental da Escola Municipal Ivan Inácio de Oliveira Zurita, localizada na zona rural de Araras, em São Paulo. Separou os alunos em quatro grupos aleatórios e foi testando diferentes metodologias, como teatro, histórias em quadrinhos, palestras e gincanas em cada grupo.
Ela explica que, logo após a divisão dos grupos e antes das atividades, era aplicada uma prova objetiva com 20 questões que iam de perguntas mais simples, como “Para que servem os nossos dentes?” às mais específicas, como “Para que serve o flúor?”. Na peça de teatro e na história em quadrinhos, por exemplo, era contada a história de uma menina que tinha um lado bom e um lado ruim. “O lado bom era a fada, que dizia para ela escovar o dentes e evitar comer muitos doces. O lado ruim era representado pela bruxa, que dizia o contrário da fada. A menina segue os conselhos da bruxa e fica com muita dor de dente, porque passa a ter cáries. Então a fada leva a menina ao dentista, que explica como escovar corretamente os dentes, o que é cárie, o que é placa bacteriana e o que é flúor”, conta.
Traduzir de forma acessível alguns assuntos que nem sempre são simples foi um desafio para a pesquisadora e, por isso, ela defende que todas as escolas deveriam ter profissionais da saúde para auxiliar os alunos a introduzirem esses hábitos no cotidiano dos pequenos. Entretanto, ela destaca que os resultados obtidos com o experimento foram positivos. “Claro que para ter certeza se esses métodos educativos mais ativos realmente funcionam a gente precisaria fazer a pesquisa com uma quantidade maior de crianças e por mais tempo, mas depois da aplicação das metodologias a gente entregou aos alunos aquela mesma prova objetiva do início e percebemos um aumento no número de questões respondidas corretamente. Isso prova que eles aprenderam com as atividades”, afirma. O aumento de acertos no questionário foi mais significativo no grupo que trabalhou com a história em quadrinhos, com cerca de 5% de acertos a mais após a aplicação da atividade.
Mesmo que a aplicação de atividades na escola seja o ideal, o empenho com a saúde bucal em casa também deve permanecer. Luciana brinca que, primeiramente, os pais deveriam ser educados para depois ensinar, mas defende que, de modo geral, eles devem incentivar os filhos a lidar com a escovação de uma forma mais divertida. "É importante que seja estabelecida uma rotina de horários para escovar os dentes e se tenha certo cuidado com a alimentação, mas é necessário um momento de prazer. Para isso, é bom colocar uma música, distrair a criança enquanto o pai escova os dentes dela e até deixar que ela escove sozinha um pouquinho", diz.