• 22/11/2024

    Dengue, Zika vírus e chikungunya: conheça as diferenças e semelhanças

    Transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, doenças causam sintomas e complicações diferentes

    Apenas no ano de 2015 foram registrados 2.975 casos suspeitos de microcefalia, de acordo com o último boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde naquele ano, sendo que uma das principais suspeitas é que o surto esteja relacionado à infecção pelo Zika vírus durante a gravidez. Para se ter uma ideia do tamanho do problema, entre os anos de 2010 e 2014 foram registrados um total de 781 casos em todo país. Em 2016 este número continua a subir, com o risco de se espalhar, inclusive, para outros países. Em relação à contaminação pela dengue, os números também são alarmantes. De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil apresentou índice recorde de 1.6 milhão de pessoas infectadas pela doença em 2015. O número é o maior já registrado desde os anos 90.

     

    Ciclo de transmissão do Aedes aegypti

    O Aedes aegypti torna-se um vetor de contaminação depois de picar alguém que já foi infectado com o vírus da dengue (DEN-1, DEN-2, DEN-3 ou DEN-4), zika (ZIKV) ou chikungunya (CHIKV). É importante ressaltar que o mosquito pode transportar os respectivos vírus por toda a sua vida. Por isso é de grande importância que a pessoa que está no período de tratamento de dengue, zika e chikungunya se proteja para não ter contato com o mosquito novamente.

     

    Sintomas

    Em comum, além de serem transmitidas pela picada do mesmo mosquito, as doenças aparecem em fases agudas, podem dar mal-estar, dores pelo corpo e de cabeça, e febre. "Entre as diferenças, a dor de cabeça costuma ser mais intensa na dengue, enquanto a dor nas articulações é mais intensa na chikungunya e o Zika raramente apresenta febre ou outros sintomas mais característicos", diz Esper Kallas, coordenador do núcleo de infectologia do Hospital Sírio-Libanês. "A infecção pelo Zika costuma apresentar também um quadro de conjuntivite em cerca de metade das pessoas, a vermelhidão no corpo costuma coçar e ela pode causar um aumento dos gânglios, sinais que não estão presentes nas outras duas", completa.

    Apesar de todas as doenças causarem cansaço e dor no corpo, no caso da chikungunya, a dor nas articulações é incapacitante e também pode causar inchaço. Sendo assim, a pessoa não consegue fazer as suas atividades diárias. Veja o comparativo entre os sintomas na tabela abaixo:

     

    Dengue

    Zika vírus

    Chikungunya

    Sintomas

    Dentre os sintomas da dengue temos febre alta, dor de cabeça, dor atrás dos olhos, perda de apetite, manchas e erupções na pele principalmente na região do tórax e membros superiores, náuseas e vômitos, tontura, extremo cansaço, moleza, dor no corpo, ossos e articulações e no abdômen.

    Das três infecções, a por zika vírus é que apresenta os sintomas mais brandos, que incluem febre baixa, dor nas articulações, dor muscular, na cabeça e atrás dos olhos, conjuntivite, erupções cutâneas avermelhadas que podem coçar. Outros sintomas menos comuns são dor abdominal, diarreia, constipação e pequenas úlceras na mucosa oral.

    O sintoma mais característico da chikungunya é a dor incapacitante nas articulações, mas ela também pode vir acompanhada de febre, dor nas costas e na cabeça, erupções cutâneas, fadiga, náuseas, vômitos e dores musculares (mialgias).

     

    Diagnóstico e tratamento

    Para estabelecer se o paciente está com está com Zika, dengue ou chikungunya, além de analisar os sintomas, o médico pode solicitar exames para confirmar o diagnóstico. "Por exames laboratoriais gerais é muito difícil estabelecer a diferença entre as três. A dengue pode levar a uma queda no número de plaquetas, que é detectada num hemograma, mas o diagnóstico é feito por sorologia, em que se busca o anticorpo para a doença no organismo da pessoa. No caso da chikungunya, também é possível fazer o teste por sorologia em busca do anticorpo, mas o Zika não tem um teste por sorologia disponível. Os laboratórios privados estão buscando os testes de material genético (PCR) para o Zika e chikungunya", diz Kallas. Contudo, estes testes só podem ser aplicados até o quinto dia após a manifestação dos sintomas para o Zika vírus e até o décimo dia para chikungunya, uma vez que depois disso o vírus não está mais no organismo então não é detectado pelo teste de material genético (PCR).

    O Ministério da Saúde divulgou na segunda quinzena de janeiro que está adquirindo 500 mil testes de PCR para fazer também o diagnóstico do Zika vírus nos laboratórios públicos, e que as primeiras 250 mil unidades serão entregues ainda em fevereiro e a segunda metade estará disponível no segundo semestre.

    Além deste, o Ministério também divulgou que serão adquiridos outros 500 mil testes, chamados de Kit NAT, produzidos pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para diagnóstico de dengue, Zika e chikungunya. Um tipo semelhante deste mesmo teste já era utilizado desde janeiro de 2014 para a detecção do HIV e hepatite C nos bancos de sangue brasileiros. Segundo a nota oficial do Ministério, "o Kit NAT discriminatório para dengue, Zika e chikungunya, permite realizar a identificação simultânea do material genético para os três vírus, evitando a necessidade de três testes separados", o que garantirá maior agilidade no diagnóstico.

    Zika, dengue e chikungunya não têm uma medicação específica que combata o vírus, então o tratamento de todas é com base nos sintomas que a pessoa apresenta. "Nosso objetivo no tratamento é fazer o suporte clínico para controlar os sintomas e monitorar o surgimento de possíveis complicações, mantendo o paciente no melhor estado possível enquanto o ciclo do vírus se encerra naturalmente", explica Carolina Lázari, infectologista do Fleury Medicina e Saúde.

    No caso da dengue, o médico responsável pedirá o monitoramento do hemograma do paciente, uma vez que esta doença pode causar complicações graves e até o óbito. "As pessoas que apresentam alguma alteração no hemograma são mantidas no mínimo em observação com hidratação endovenosa, que também é muito importante. Os casos mais simples podem ser tratados em casa enquanto os mais graves permanecem internados em observação. Este tipo de suporte não é necessário para os outros dois vírus, pelo que estamos aprendendo agora, pois as manifestações clínicas deles são mais brandas e é raro que haja óbito nestes casos, ao contrário da dengue", esclarece a infectologista.

     

    Complicações

    Apesar do Zika vírus ser o mais brando do ponto de vista do quadro clínico, o que os sintomas duram por menos tempo, ele é o que demanda maior atenção no caso das gestantes, uma vez que já foi confirmada a sua relação com problemas de desenvolvimento fetal - microcefalia. "Infelizmente, ainda não há nenhuma conduta específica para tratar esta mãe e proteger o feto. Diferente da sífilis e toxoplasmose, por exemplo, que temos medicamentos que, tratando a mãe de forma precoce durante o pré-natal, evitamos que o problema atravesse a barreira placentária trazendo sequelas ou complicações para quando o bebê nascer", diz Carolina.

    O chikungunya, que tem os sintomas mais marcantes entre as três infecções, pode levar o maior tempo para que eles cheguem ao fim. "Talvez seja necessário o uso de uma maior quantidade de medicamentos analgésicos, anti-inflamatórios e até corticoides para conter a atividade inflamatória e a dor e, além disso, já há relatos que a mesma infecção, depois de resolvidos os sintomas, pode voltar a se reativar, causando os mesmos sintomas novamente, o que não acontece para a dengue e o Zika", diz a médica. Veja as possíveis complicações do Zika vírus, dengue e chikungunya no quadro a seguir:

     

    Dengue

    Zika vírus

    Chikungunya

    Complicações

    As principais complicações da dengue são choque circulatório, hemorragias, complicações viscerais como hepatite e encefalite, entre outras. O choque pode ocasionar diversas complicações neurológicas, cardiorrespiratórias, insuficiência hepática, hemorragia digestiva e derrame pleural, além de poder levar a óbito.

    As complicações do Zika num adulto são de ordem neurológica, como a Síndrome de Guillain-Barré. Também no caso das gestantes, há o risco de problema de desenvolvimento fetal, acarretando no nascimento do bebê com microcefalia e outras más formações.

    No caso do chikungunya, as principais complicações são a demora para resolução dos sintomas, principalmente as dores articulares, o que pode fazer com que a pessoa demore várias semanas para retomar suas atividades diárias, além da possibilidade de reativação da doença depois de um período de melhora.

    Os vírus têm a capacidade de, até certo ponto, se modificar e também de atingir de formas diferentes as diversas populações que acabam os contraindo ao longo do tempo. Justamente por esta razão não é possível dizer ainda se os vírus da dengue, Zika e chikungunya podem estar relacionados a outras complicações além destas. Diversas pesquisas estão sendo realizadas no Brasil e no mundo sobre este assunto, mas ele ainda é muito novo e demanda mais tempo para a confirmação e registro na literatura médica e científica dos seus efeitos.