Células-tronco do dente de leite são promessa de cura
A busca por fontes de células-tronco tem sido alvo de pesquisas em todo o mundo, afinal elas são a esperança para o tratamento de diversas doenças.
O sangue do cordão umbilical é uma dessas fontes, uma das mais estudadas entre os cientistas. Há outra menos conhecida entre a população, mas que se tem revelado promissora na área: o dente de leite.
A odontopediatra Ana Beatriz Zaratine explica que as células-tronco encontradas na polpa dental são do tipo mesenquimais, com grande potencial de multiplicação e diferenciação.
“Essas células possuem capacidade de se transformar em diferentes tecidos do corpo, como osso, cartilagem, músculo e pele; diferentemente do material extraído do cordão umbilical logo após o parto, que, hoje, só pode ser utilizado no tratamento de doenças sanguíneas”, esclarece.
Além de se destacar entre as demais fontes de células- -tronco em função da facilidade de obtenção e grande concentração celular, uma outra vantagem é que essas células podem servir não só para o doador, mas também para a família.
Entre as doenças envolvidas nas pesquisas científicas realizadas pelo mundo estão o mal de Alzheimer e o diabetes, além de reconstruções ósseas e de retina.
No Brasil, estudos clínicos usando a polpa dos dentes de crianças têm se mostrado eficazes, por exemplo, na reabilitação de lábio leporino – quando o paciente tem uma abertura na região do lábio ou do céu da boca, fruto do não fechamento dessa estrutura durante a gestação.
“Nós utilizamos as células- -tronco retiradas da polpa do dente de leite e colocamos no local onde existe a falha no osso. Essas células começam a formar um novo osso e, em seis meses, ocorre o completo preenchimento”, explica a dentista e pesquisadora do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês, Daniela Bueno.
A profissional se dedica a pesquisas sobre o uso dessas estruturas desde 2005. Segundo ela, o tratamento-padrão para lábio leporino é feito com um pedaço do osso da bacia, utilizado para preencher o buraco no osso acima da gengiva. Um em cada 650 brasileiros nasce com o problema.
Segundo a pesquisadora, além da vantagem de ser indolor, o tratamento reduziria os custos dos hospitais. “O fato de você não ter que tirar osso da bacia reduz custo, porque diminui o número de profissionais envolvido e o tempo de internação desses pacientes nos hospitais”, diz Daniela.
As células-tronco extraídas da polpa do dente de leite de crianças autistas também têm sido alvo de estudos na Universidade São Paulo (USP). O projeto A Fada do Dente é desenvolvido pela bióloga Patrícia Beltrão Braga, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), em parceria com o professor e neurocientista Alysson Muotri, da Universidade da Califórnia.
Com as células da polpa do dente, os pesquisadores realizam uma reprogramação celular, transformando-as em células-tronco que são diferenciadas em neurônios. Esse processo permite identificar diferenças biológicas nos neurônios com autismo, estudar seu funcionamento e até mesmo testar drogas.
Esperança
Por enquanto, a utilização destas células-tronco só pode ser realizada em pacientes que fazem parte de pesquisas, mas já há pais em busca de empresas especializadas no congelamento e armazenamento das células-tronco da polpa do dente de leite dos filhos.
A administradora Sheila Cunha, 42, recorreu ao serviço na esperança de ter o problema do filho, Ernesto, 6, resolvido. O garoto nasceu com lábio leporino e, também, com síndrome de down. “Sei que essas pesquisas ainda estão em fase experimental, mas acho que é um investimento armazenar essas células-tronco. As pesquisas nessa área estão avançando muito. Quem sabe pode ser útil no futuro?”, indaga.
Por Fabiana Mascarenhas