• 22/11/2024

    Bebidas esportivas: prato cheio para cáries e erosão dental

    Na busca por reidratação, jovens trocam a água por opções pouco saudáveis, como isotônicos e refrigerantes.

    Que crianças e adolescentes saudáveis e ativos gastam calorias e perdem líquido, não é novidade. Nem por isso, precisam recorrer a soluções duvidosas para recompor o organismo: alimentar-se adequadamente e beber bastante água são o suficiente. É melhor para o corpo – e para os dentes.

    Ainda assim, energéticos, refrigerantes e sucos artificiais são febre em qualquer cantina – a ponto de haver projetos para proibir a venda desse tipo de bebida em escolas. Uma pesquisa da Universidade de Cardife, no País de Gales, constatou que 89% dos galeses de 12 a 14 anos consumiam isotônicos, e 68% o faziam ao menos uma vez por semana. O apelo das bebidas esportivas está no sabor adocicado, no preço acessível e na promessa de desempenho físico e hidratação.

    O porém é que as bebidas, além de nutricionalmente pobres, são ao mesmo tempo ácidas e ricas em açúcar: prato cheio para cáries e erosão dental (a perda do tecido duro, o esmalte, devido ao efeito abrasivo do ácido). "Os problemas não vão ocorrer porque o adolescente bebeu eventualmente, mas pela ingestão frequente e ao longo do tempo, de meses a anos", explica Priscila Stona, odontopediatra do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre.

    Segundo Priscina, a realidade galesa não é muito diferente da brasileira. "Vemos adolescentes e crianças que sequer bebem água e ingerem muitas bebidas ácidas, como os próprios isotônicos, além de refrigerantes e sucos de caixinha". Bebidas com pH a partir de 5,5, já desmineralizam o esmalte – e quanto mais ácido o líquido, pior. Isotônicos têm pH em torno de 3, suco de laranja, 3,5. Refrigerantes de cola são os mais ácidos, com pH 2,5, próximo ao do suco gástrico, que é de 1,5. "Não se pode falar em dose segura para o consumo dessas bebidas, mas é importante controlar frequência", pondera a odontopediatra.


    Higiene no momento certo

    A odontopediatra explica que deve haver cuidado inclusive com a higiene bucal depois de consumi-los. De preferência, deve-se aguardar em torno de 30 minutos após a ingestão para escovar os dentes, já que a acidez na boca torna a escovação mais desgastante. A própria salivação se encarrega de neutralizar os ácidos.
    Ela salienta que dificilmente se detecta o problema no primeiro sinal de dano – a perda do brilho. Quando o desgaste evolui para a exposição da dentina, pode ocorrer aumento da sensibilidade dos dentes. É aí que muitos pacientes procuram ajuda profissional. As bordas dos dentes superiores ficam mais finas, e na superfície dos dentes inferiores aparecem "lesões côncavas, em forma de colher".

    O tratamento mais comum é a aplicação de verniz de flúor, selantes e restaurações. E, principalmente, descobrir a causa – não adianta recauchutar o sorriso e manter os hábitos nocivos. "Hábito é difícil de alterar. Um adolescente ou criança que toma muito refrigerante não vai mudar de uma hora para a outra. Mas pode diminuir frequência, usar canudo, não deixar o líquido em contato com os dentes por muito tempo. E tomar menos. Quanto menos, melhor", sentencia Priscila.

    Dicas:

    Beber o mínimo possível de refrigerantes, isotônicos e energéticos.

    Sempre que possível, beba com canudo.

    Após a ingestão de bebidas ácidas, faça bochecho com água para reduzir a acidez.

    Escove os dentes, mas aguarde em torno de 30 minutos para não agravar os danos ao esmalte.