• 21/11/2024

    Amálgama dentário pode fazer mal à saúde ?

    Projeto que bane o uso da substância tramita na Câmara dos Deputados.

    O mercúrio é um metal muito presente na indústria. Utilizado em objetos como termômetros e lâmpadas fluorescentes, tem um papel importante na odontologia, principalmente na área restauradora. O Projeto de Lei (PL) 654/2015 trouxe à tona um debate sobre o uso do amálgama, uma liga metálica que possui mercúrio em sua composição e é amplamente utilizada em obturações. De acordo com o texto, o metal presente no material seria altamente nocivo ao organismo humano. No entanto, em outubro de 2015, o próprio autor do PL pediu sua retirada, por entender que “o uso do mercúrio em amálgama dentária pelos profissionais habilitados não implica em risco para seus usuários”. Porém, o projeto continua tramitando na Câmera dos Deputados.

    Ana Tokunaga (CROPR 19056), autora do blog Medo de Dentista e especialista em Radiologia Odontológica, esclarece como acontece a aplicação do amálgama: “hoje em dia, compra-se o amálgama em capsula, que é colocado em uma máquina que agita o material e o deixa pronto para o uso. O dentista abre a capsula e, com um instrumento adequado, coloca o material no dente do paciente e após o molda conforme a necessidade”, explica.

    De acordo com os professores do Departamento de Dentística da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (USP), José Mondelli (CROSP 2058), Juliana Bombonatti (CROSP 56586), e Adilson Yoshio Furuse (CROSP 73828), quando corretamente manipulado e empregado, o material não traz nenhum risco para os pacientes e nem para os profissionais. O amálgama é muito utilizado por ser resistente, ter fácil aplicação, baixo custo e uma maior durabilidade. “Este material é indicado na restauração de dentes posteriores, sendo uma substância com comprovação científica e sucesso clínico há mais de 150 anos”, salienta Mondelli. De acordo com os professores da USP, o amálgama é o componente restaurador de uso direto na boca com maior tempo de acompanhamento científico.

    “Em pacientes com necessidades especiais, por exemplo, em que não é possível garantir que o dente esteja completamente seco durante o procedimento restaurador, o amálgama pode ser o único material viável. A substância pode ser inserida e condensada mesmo na presença de saliva, algo impossível no caso da resina, que é adesiva e não se fixa em um dente úmido”, salienta Tokunaga. A maior desvantagem do uso deste material consiste na questão estética, em função de sua cor metálica.

    Maria de Fátima Ramos Moreira, pesquisadora e professora do Programa de Pós-graduação em Saúde Pública e Meio Ambiente da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fundação Oswaldo Cruz, coloca um contraponto em relação à utilização do amálgama. Ela afirma que o problema do material está no preparo, pois há emissão de vapor de mercúrio nesse momento. “O risco de efeito sobre o sistema nervoso existe para o profissional da odontologia, uma vez que esses trabalhadores se expõem cronicamente (baixas doses e longo tempo) ao vapor de mercúrio”, assegura. Segundo a pesquisadora, para o paciente, o risco de exposição ao vapor de mercúrio acontece apenas durante a colocação ou remoção do amálgama do dente.

    Já para Tokunaga, a liberação de vapor do mercúrio durante o manuseio do dentista é insignificante. Ela explica que esse vapor, caso seja absorvido, é liberado pela urina, pois o corpo humano dificilmente absorve a forma inorgânica do mercúrio, que é utilizada nas restaurações.