Agulhas podem estar com os dias contados na odontologia
Novo método é mais seguro e potencializa efeito do medicamento.
A temida agulha pode sumir dos consultórios odontológicos. Pelo menos no que depender dos esforços de uma equipe multidisciplinar da Universidade de São Paulo (USP) que está trabalhando para desenvolver uma solução para eliminar o uso de agulhas nas anestesias em odontologia.
A técnica, desenvolvida por pesquisadores da área da odontologia e das ciências farmacêuticas, consiste em usar a iontoforese para potencializar e facilitar a permeabilidade de anestésicos na gengiva. Segundo Paulo Linares Calefi (CROSP 99121), autor de uma dissertação de mestrado a respeito do assunto, trabalhos na área demonstram que pelo menos 22% da população sofre de algum tipo de ansiedade relativa à execução de tratamentos dentais que envolvem uso de agulhas.
A iontoforese, como explica Camila Cubayachi, doutoranda do Programa de Pós Graduação em Ciências Farmacêuticas da USP, facilita a absorção fármacos anestesiantes na gengiva pelo uso de correntes elétricas de baixa intensidade. Ela afirma que a técnica será muito mais confortável para o paciente e evitará infecções, pois diminui o risco de contaminações e possíveis acidentes (como a agulha quebrar durante o procedimento), além de potencializar o efeito anestésico dos medicamentos. “O que pesa muito a favor desse método é diminuir totalmente as chances de imprevistos e até problemas como a entrada da anestesia na corrente sanguínea. Dessa forma, vários efeitos colaterais podem ser eliminados”, afirma o cirurgião-dentista Vinícius Pedrazzi (CROSP 6533).
Como funciona
A técnica consiste na passagem guiada de eletrodos para a parte inferior da gengiva através de dois fios aderidos com adesivos na superfície gengival, que é preparada com uma substância anestésica, ligados à um dispositivo que gera as correntes elétricas fora da boca. Com esse método, é possível controlar a duração da anestesia. Ou seja, durante os procedimentos odontológicos o estimulador elétrico fica ligado, e assim que o aparelho é desativado as correntes deixam de ser passadas e os anestésicos não são mais conduzidos para o interior do tecido. Quando a corrente é desligada ainda há um pequeno efeito do fármaco que já entrou na gengiva, mas essa quantidade é muito pequena, ao contrário do que acontece com as anestesias usadas normalmente, em que os pacientes podem ficar com o efeito do medicamento durante horas após realizar o tratamento.
Atualmente, as pesquisas buscam adaptar um adesivo que consiga aderir à gengiva apesar da umidade gerada pela saliva e que tenha cerca de dois milímetros de diâmetro, o que tornaria o produto comercializável e acessível ao grande público. Os testes dessa técnica ainda não foram concluídos, mas resultados efetivos devem ser divulgados em cerca de dois anos.